A bela história de um delirante palhaço brincando de circo nas últimas horas de vida
O espetáculo é de 2019 e está sendo retomado agora na programação do Palco Giratório 2024, em Recife. Uma tocante homenagem aos circos, feita de forma documental e pungente por uma companhia local, Brincantes de Circo, fundada em 2011. Os créditos são de gente que entende do riscado. Direção geral, dramaturgia e canções são de Ceronha Pontes. Direção musical é de Davison Wesley. Direção de arte e concepção são de Marcondes Lima. Plano e operação de luz de Beto Trindade. Direção circense de Boris Trindade Júnior, que está no elenco ao lado de André Ramos.
Um velho palhaço despenca lá do alto em uma apresentação de trapézio – e vai parar na cama de um hospital por um bom tempo, onde sobrevive com a força de suas memórias e na companhia de um enfermeiro-palhaço que lhe faz as vezes de fiel escudeiro, apoiando todos os seus delírios, embarcando com o velho nas fantasias de que aquele quarto de hospital é um picadeiro.
O parágrafo acima, escrito assim, dessa forma objetiva e sem poesia nenhuma, é meramente informativo, coisa de jornalista pragmático – e não faz jus de forma alguma ao que é o espetáculo, que leva o título de ‘Histórias de Um Pano de Roda’. Os profissionais envolvidos – todos – produziram um forte libelo em favor da memória do circo, da importância de apoiar esses artistas que ainda acreditam na força de se levantar um lona e esperar o público chegar para a função.
O fato de um dos palhaços ser veterano e, portanto, idoso contribui para levantar a temática do etarismo, tão importante de ser abordada na arte, para diminuir o preconceito. Ótima escolha. Mas o que mais admiro nessa montagem é que tudo é dúbio, ambíguo. Vemos uma quarto com cama de hospital, mas também vemos um circo armado. Vemos um velho palhaço ensinando seus números clássicos para o jovem aprendiz, mas também vemos que é um delirante paciente enfermo vivendo suas últimas fantasias e alucinações.
Essa inteligência dramatúrgica, cenográfica, de direção, de interpretação, de tudo, é o que faz o teatro ser teatro, e não novela naturalista. Fazer teatro é saber contar histórias dando asas à imaginação da plateia. É oferecer dúvidas e ambiguidades, em vez de entregar certezas. É enriquecer os personagens com diversidades inusitadas, nos fazendo indagar quem realmente eles são – o que, no fundo, significa perguntar “quem realmente somos nós”. Isso é pirandelliano, isso é felliniano, isso é machadiano – algumas genialidades que cultivaram o “assim é se lhes parece” em seus variados gêneros de arte.
Poderia ser simplesmente uma sucessão de malabarismos, mágicas, equilibrismos, adivinhações – e a plateia igualmente sairia feliz com a homenagem ao circo. Esses números, aliás, estão todos lá e são bem divertidos. Mas o que esse grupo traz vai além do roteiro óbvio e linear. E, de quebra, conseguindo efeitos magníficos com soluções simples. Como, por exemplo, deixar a luz bem baixa no número do balé aéreo com tecido acrobático – a poesia cênica se instaura e foge do óbvio. Bastam dois leques nas mãos do velho personagem para nos fazer acreditar que ele está andando numa corda bamba. A metáfora de entregar o nariz vermelho significando que o palhaço vai morrer. São alguns exemplos de como ‘Histórias de Um Pano de Roda’ é grandioso no encantamento e desafiador na forma como constrói sua narrativa.
A construção dos dois personagens também é perspicaz e nada cartesiana. As personalidades de cada um vão surgindo por meio de frases bem escritas, que ficam na nossa cabeça até depois do fim do espetáculo. “Ariano veio me buscar com João Grilo e Chicó”, na hora do delírio final. “Bota esse pandeiro pra torar, menino”, na hora de dizer que o discípulo precisa seguir vivendo. Ou o curto diálogo que sugere ter coragem para fazer descobertas: “- Por onde eu começo? – Virando esse mundão de ponta cabeça!” Há espaço também para alguma malícia entre os dois palhaços, Tapioca e Capricha, nas horas em que sensualizam e dizem “que delícia”. Ou seja, são personagens complexos, plenos de dimensão humana. Até o tema do suicídio aparece, produzindo uma cena bem melodramática, que remete aos melodramas de circo de antigamente.
O espetáculo é interrompido algumas vezes para exibição de cenas de um vídeo em preto-e-branco no telão, mostrando bons depoimentos de artistas circenses veteranos, derramando seu amor pelo ofício. Esses momentos dão um força documental à trama ficcional – e são de bom gosto e emoção na medida certa. A qualidade técnica do vídeo também merece menção.
A única ressalva que faço é que a peça acaba várias vezes. Tem quatro ou cinco momentos em que a gente pensa que ela acabou, só que não. Isso cria uma ansiedade que poderia ser evitada, porque prejudica a boa fluência que vinha sendo conseguida até então. Esse incômodo e repetido “será que acabou?” faz a potência do verdadeiro final ficar comprometida. E é um belo final, que não merecia ficar diluído como fica.
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Ana Regina Pinho da Franca Farias
31/05/2024 @ 12:43
Fui do riso ao choro, um espetáculo fantástico! Bravo bravo!
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